Grupo Mantiqueira investe R$ 25 milhões em nova fábrica

Grupo Mantiqueira investe R$ 25 milhões em nova fábrica

O grupo brasileiro Mantiqueira, dono da maior granja de galinhas poedeiras da América Latina, está construindo sua primeira fábrica de processamento de ovos. Com investimento de R$ 25 milhões, a empresa de origem mineira já deu início às obras da unidade, em Primavera do Leste (MT), e vai entrar na disputa por um mercado pulverizado entre concorrentes como Fleichmann, Sohovos e Netto Alimentos.

Criado nos anos 1980, o grupo pretende aproveitar a retomada do consumo da proteína – até pouco tempo responsabilizada pela alta taxa de colesterol da população – e agregar valor a uma produção já consolidada no mercado doméstico. “O ovo foi absolvido em todos os tribunais que o condenaram”, afirma Matheus Avelar, diretor financeiro do Mantiqueira, repetindo os dizeres do sócio-fundador Leandro Pinto. “É o alimento mais completo do mundo depois do leite materno”.

Brasileiros a consumiram 39,1 bilhões de ovos no ano passado.
Brasileiros a consumiram 39,1 bilhões de ovos no ano passado.

A “absolvição”, que levou os brasileiros a consumirem 39,1 bilhões de ovos no ano passado, gerou à companhia um faturamento de R$ 450 milhões em 2016, alta de 25% frente ao resultado do ano anterior. Só o Mantiqueira tem uma produção diária de 4,6 milhões de ovos, a maior do continente, e um plantel de 11 milhões de galinhas.

Nesse cenário, a ambição da granja em avançar sobre mais um elo da cadeia cresceu também. A fábrica de processamento permitirá a venda direta de subprodutos usados pela indústria de alimentos, como o ovo líquido e em pó, ampliando portfólio e margens.

“Hoje, vendemos entre 15% e 20% da nossa produção à indústria de processamento, que passará a ser nosso concorrente. Assim, pretendemos elevar a receita financeira nessa proporção”, diz Avelar.
A fábrica de quase 3 mil metros quadrados em Primavera do Leste, onde o Mantiqueira tem uma de suas três fazendas de produção avícola, deverá iniciar suas operações no fim de 2018 com produção de 40 toneladas por dia de produto acabado em embalagens cartonadas de 250 ml ou 1 litro sob a marca “Eggexcelente”.

A unidade receberá matéria-prima produzida majoritariamente das aves criadas em Primavera do Leste, voltada aos mercados do Nordeste brasileiro – e, quando o câmbio permite, ao exterior. Outras duas fazendas de produção, em Itanhandu e Passa Quatro (MG), abastecem com ovos os consumidores do Sudeste e do Sul.

A verticalização é vista como um passo importante na história da companhia – que hoje é comandada por Leandro Pinto e pelo português Carlos Cunha -, mas continuará sendo a menor parte do negócio. O foco permanece na venda de ovos frescos – que, refrigerados, são vendidos até para Japão e Emirados Árabes Unidos, ainda que o mercado brasileiro seja prioritário.

Leandro Pinto é o sócio-fundador da companhia.
Leandro Pinto é o sócio-fundador da companhia.

O ânimo em relação ao aquecimento do consumo de ovos no país estreitou os embarques ao exterior para patamares mínimos, ante os 5% a 10% de praxe para o grupo, alinhando-se à média de exportação brasileira inferior a 1%.

Segundo Ricardo Santin, presidente do Instituto Ovos Brasil e vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína (ABPA), apesar de ainda ser a proteína menos consumida, a tendência é de retomada em 2017. “O brasileiro come cada vez mais ovos em um cenário de crise econômica, quando a carne fica cara”. Tradicionalmente, as compras de cortes bovinos são substituídas por suínos e frangos em tempos bicudos, migrando para a salsicha e os ovos à medida em que o desemprego sobe e a renda cai.

Em 2016, os dados já não foram tão ruins. Ainda que a produção tenha recuado levemente, de 39,5 bilhões para 39,1 bilhões de unidades, o faturamento ficou em R$ 13 bilhões – R$ 200 milhões a mais que em 2015, efeito de reajustes. A queda no consumo também foi mais suave. “O brasileiro consumiu 0,8% menos ovos, mas 4% menos frango e 5% menos suínos em 2016”, diz Santin. Para 2017, ele espera melhora no consumo e, talvez, na produção.

A favor do segmento avícola, pesa também situações regionais como a decisão do Estado de São Paulo, maior mercado do país, de encerrar a isenção de ICMS que beneficiava o setor de carnes desde 2009. Com a medida, as carnes podem subir até 8% a partir de abril.

Em declaração recente, Leandro Pinto, dono do Mantiqueira, brincou com a crise no setor de ovos. “Ela tem durado seis horas, o tempo entre uma refeição e outra”.

Fonte – BVMI – Leandro Munhoz – Bettina Barros/Valor