Por que as fábricas brasileiras operam com nível mais baixo desde 2001?

Por que as fábricas brasileiras operam com nível mais baixo desde 2001?
Dados da FGV, indicam que uso da capacidade instalada da indústria de transformação este ano está em 73,9%, o nível mais baixo desde 2001, quando o monitoramento começou a ser feito

A indústria brasileira atravessa seu pior momento em pelo menos 16 anos. De janeiro a outubro, a ocupação média das fábricas está em 73,9%, o menor índice desde 2001, quando a Fundação Getúlio Vargas (FGV) começou a fazer o levantamento. Nesses 16 anos, a média histórica de ocupação de capacidade da indústria é de 80,9%.

Honda investiu R$ 1 bilhão numa nova fábrica em Itirapina-SP, que continua com a planta fechada até hoje.
Honda investiu R$ 1 bilhão numa nova fábrica em Itirapina-SP, que continua com a planta fechada até hoje.

“A grande ociosidade na indústria mostra a profundidade da crise econômica”, diz a coordenadora da Sondagem Industrial do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Tabi Thuler Santos. Segundo ela, dos 19 segmentos pesquisados, 80% estão com a ocupação baixa ou extremamente baixa. O segmento que está em pior situação é o de automóveis. Em outubro, as montadoras usavam 55,9% da capacidade das fábricas, menor nível mensal de ocupação também em 16 anos.

A japonesa Honda, que investiu R$ 1 bilhão numa nova fábrica em Itirapina-SP, por exemplo, continua com a planta fechada e sem perspectivas de utilizá-la no curto prazo. O presidente da Honda do Brasil, Issao Mizoguchi, afirma que nem o início da produção de um novo veículo da marca no País, o utilitário-esportivo compacto WR-V, será suficiente para ativar a fábrica. A unidade está pronta desde o fim de 2015, deveria ter sido inaugurada no início deste ano, mas segue fechada, com todos os equipamentos da linha de montagem aguardando a melhora do mercado. “Pode ser que a fábrica fique ainda um ano ou mais parada, não sabemos”, afirma o executivo.

Retomada.

Um dos efeitos dessa grande ociosidade na indústria, segundo especialistas, é adiar pelo menos para 2018 uma retomada do investimento na produção, com abertura de novas fábricas e contratações. Segundo José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o próximo ano ainda será de “arrumação da casa”, antes de se pensar em novos investimentos.

José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

“Como pensar em investimentos se as empresas não estão gerando caixa para pagar as despesas financeiras?”, diz Coelho. Segundo ele, o primeiro passo é ocupar a capacidade ociosa, acertar as pendências financeiras e com o Fisco, para depois decidir investir, se houver um aumento da procura.

Roriz acredita que, se as reformas propostas pelo governo, como a PEC do Teto de Gastos e a da Previdência, forem aprovadas, os empresários recolocarão os investimentos no orçamento das companhias para 2018. Esses orçamentos começam a ser elaborados no segundo semestre do ano que vem. “Mas isso, se tudo correr bem e as reformas forem realmente implementadas”, diz. Nesse contexto, afirma, 2017 será ainda um ano de ocupação da capacidade de produção.

De acordo com o especialista em vendas industriais, Licio Melo, a confiança dos investidores ainda não foi restabelecida em boa parte pela instabilidade política e também pela metodologia de gestão antiga aplicada principalmente na estratégia comercial da indústria. Isto se reflete no Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) que caiu para 51,7 pontos em novembro, recuo de 0,6 ponto em relação a outubro.

Licio Melo, especialista em Vendas Industriais e CCO da CityCorp.
Licio Melo, especialista em Vendas Industriais e CCO da CityCorp.

Segundo ele o mundo real teima em estragar os planos dos departamentos de marketing das indústrias como um todo, uma Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que, este ano, o investimento industrial caiu pela metade em relação a 2015 – os empresários informaram que iriam investir R$ 48,4 bilhões na produção, um dos menores resultados já revelados pelo levantamento feito anualmente pela Fiesp. Em 2015 foram aplicados R$ 97,5 bilhões. Ou seja, entre 2015 e 2016, a queda é de 50,3%.

Licio enfatiza que as indústrias que investiram em planejamento e a busca de oportunidades no mercado exterior hoje possuem fôlego para enfrentar esse período conturbado no mercado interno, além é claro da reformulação de toda sua equipe técnica comercial e a necessidade de se encarar a realidade adaptando e alterando os rumos de seus planejamentos quase que em tempo real. Empresas que se preparam para o mercado externo estão colhendo bons frutos, como indica o Ranking FDC das Multinacionais Brasileiras 2016 e do Ranking de Internacionalização de Franquias Brasileiras.

Ele finaliza afirmando que o mercado industrial mudou mas os gestores ainda não se deram conta disto e os resultados de hoje são reflexos desta falta de sintonia com a realidade de mercado global da indústria.

Fonte – BVMI – Murillo Costa – Márcia De Chiara/Oesp (COLABOROU CLEIDE SILVA)